À noite havia os tradicionais bailes de família e todos iam curtir sem pecado e felizes, como se tivessem experimentado o pó de “peripimpim” da boneca Emília.
Mas a vida é real, aqui é o Rio de Janeiro – Brasil, e não o mundo da fantasia. O céu é cinza das balas perdidas cortantes no ar, o mar é sujo por conta dos vazamentos de petróleo e esgoto, os morros são tomados por barracões e traficantes; igreja é lugar de velório e muitas das belas jovens as quais circulam pelas praias cobram 50 dólares por uma transa (anal é 100).
O baile é funk – disfarçando suas letras indiretas bem diretas – em promiscuidade; e o pó é cocaína mesmo.
Recentemente vi na televisão uma piada feita pelo ator Robin Williams sobre o Rio-Brasil sediar as Olimpíadas de 2016. Pra começar já é uma piada nosso país ser escolhido para um evento tão monstruoso como esse. Não conseguimos cuidar de nossos próprios problemas, digo no meio esportivo apenas, e queremos organizar um torneio mundial. A corrupção no Pan-Americano mostrou que as medalhas dos atletas acabavam sendo de latão, porque todo o ouro foi extorquido pelos nossos queridos políticos. Nessa olimpíada serão eles novamente quem irão ganhar e muito!
E então por que fomos escolhidos? Mandamos para o júri “50 strippers e meio quilo de pó!”. Quando eu vi essa piada no Jornal Hoje morri de raiva: como eu não pensei nela antes? Achei muito engraçada por sinal, porém esperava algo catastrófico, pois a cara que Sandra Annemberg fez ao anunciar “comediante americano faz piada sem graça com o Brasil” foi digna de Oscar no filme “A indignada”. Pelo amor de Deus! Acho que não faz 3 meses e a mesma Sandra estava toda sorridente dizendo “uma pesquisa aponta o povo brasileiro sendo o mais alegre e debochado do mundo.” E cadê esse jeitinho brasileiro que se vende tanto? Onde se escondeu nossos risonhos dentes cheios de cárie rindo da própria miséria? Cadê nossos garis, camelôs que sambam na terra do calor, sol, praia e alegria?
Talvez eles estejam escondidos atrás das nossas piadas de argentino azarado e sem valor, português burro, japonês do pau pequeno, árabe terrorista, na falta de ética comercial que se faz com os gringos em suas férias. É como diz o velho ditado “pimenta no cu dos outros é refresco, no nosso arde...” por que podemos esculachar o mundo inteiro nos Cassetas Planetas por aí e não aceitamos um comentário crítico-humorístico? O pessoal por aqui anda tão superficial ao ponto d’eu achar que esse seria um motivo para começar uma briga diplomática entre nós e os americanos.
E qual é a imagem passada do Brasil? Pelo que sei, quando os estrangeiros vem aqui fazemos de tudo para pensarem estar num paraíso sem pecado. Levam em escola de samba, com aquele ritmo frenético e mulatas seminuas, dão caipirinha, muitas mulheres nas escaldantes praias percebem os gringos e já querem negociar seu sexo por uns dólares. Essa é a experiência deles: o Brasil é um país de libertinagem e promiscuo. Como gringo gosta de uma safadeza (olha o estereótipo de novo), eles contam isso para seus amigos, os quais também querem sentir um gostinho do país das maravilhas. Daí mais e mais gente vem atrás de nossas drogas de fácil acesso, sexo barato, enfim nos transformando num inferninho do mundo. Se não queremos mais essa imagem, então não armemos todo esse circo para gringo ver.
Mas apesar disso tudo, percebe-se que o Robin Williams conhece muito pouco do Rio de Janeiro e do Brasil. Se conhecesse mesmo acrescentaria além das strippers e cocaína, umas ameaças de traficantes, propinas, e um pouco de panetone (aqui ta sobrando isso). Já grande parte do povo brasileiro nada conhece de humor, crítica e o mais preocupante, não entende a si mesmo! Mas tudo bem, vamos nos revoltar com a verdade nua e crua e vivermos uma ilusão doce e fantasiosa, afinal de contas o Rio não tem nenhuma prostituta nem drogas não é?